A apresentação solo de Allan Weber na ArtRio irá mostrar um grande conjunto
de trabalhos da série Traficando arte, em que o artista traduz e transpõe para
objetos, instalações e fotografias elementos, imagens, situações e narrativas do
contexto em que nasceu e vive, a comunidade das 5 Bocas, na Zona Norte do
Rio de Janeiro.
A realidade das comunidades no Rio de Janeiro é marcada pelo abismo da
desigualdade social, pela violência policial e pelas lutas entre facções, porém
todas essas situações não podem ser tomadas como definidoras desses locais,
mas sim como fatores constituintes. A produção cultural, artística, musical,
literária e as manifestações estéticas da moda são potências que emergem
dessas localidades e também as define.
O tema principal da produção de Allan Weber é justamente esse contexto
complexo, contraditório e em disputa – tanto material como simbólica – das
comunidades cariocas e segundo o artista, seus trabalhos são fotografias,
objetos e ações que questionam e tensionam sua relação com elementos
de uma classe social marginalizada e discriminada por sua cultura e
comportamento.
Partindo desses pressupostos, o título da série Traficando arte propõe uma
subversão da ideia negativa de tráfico de drogas para uma proposição positiva
de tráfico de arte, pensada a partir da noção de troca, negócio e diálogo. Ou
nas palavras do artista: “Minha obra fala sobre a geopolítica carioca e crio ela
desconstruindo objetos e códigos usados pelo tráfico de forma subjetiva para a
criação de novos conceitos.”
Nesse sentido, diversos elementos desse cotidiano cercado pelo tráfico,
como armas e embalagens para drogas são transformados e ressignificados
por Weber, tanto na série fotográfica Traficando arte como na série de armas
construídas com câmeras fotográficas usadas ou na série Endola, em que a
técnica e material utilizado para fazer pacotes com cargas de maconha se
tonam objetos geométricos.
Elementos da cultura visual e musical da favela também são articulas em
trabalhos pelo artista, como a estética dos cortes de cabelo, os chamados
“cortes na régua” ou “cabelinho na régua” que estão presentes de forma
simbólica na série Régua, onde as lâminas utilizadas para esses cortes são
organizadas de forma geometrizadas e coladas em telas, criando composições
que dialogam diretamente com a tradição construtiva da arte brasileira. Esse
diálogo também é explorado por Weber uma série de trabalhos feitos com
colagens de retalhos das lonas utilizadas nas estruturas de coberturas dos
bailes funk, normalmente coloridas e geometrizadas.
Também serão apresentados esboços do projeto Dia de baile, que surgiu a
partir do incômodo do artista em sempre ver os bailes funks sendo retratados
de forma marginalizada, como um local de violência, ignorando a produção de
conhecimento produzida pelos bailes, bem como sua função social e cultural
nas comunidades onde são realizados. A primeira edição do projeto aconteceu
na exposição Rebu, em 2021, na piscina do Parque Lage, e levou para o interior
de um palacete em estilo eclético do começo do século 20 uma lona típica
dos bailes funks com um paredão de caixas de som que foram ativados num
baile, criando uma fricção estética e social com o ambiente elitista da zona
sul carioca, e ao mesmo tempo, apresentando e convidando a conhecer essa
manifestação musical e cultural que é o baile funk.