A Galatea apresenta 15 pinturas inéditas da jovem artista fortalezense Beatrice Arraes (1998) em seu estande na ArPa 2023. A seleção traz obras ligadas à pesquisa atual da artista, que investiga as potencialidades poéticas e plásticas relacionadas ao ofício dos pintores de letreiros populares e sua conexão com a pintura óleo, o design vernacular e a paisagem. As obras trazem imagens capturadas do entorno imediato da artista e cenas registradas a partir de derivas urbanas, explorando a tensão entre o popular e o erudito. Ao praticar a pintura de cavalete, Arraes desdobra, dialoga, e joga com temas do cotidiano que a permitem investigar a potência expressiva e popular do espaço onde vive.
As pinturas e inscrições de parede sempre estiveram presentes na paisagem urbana, ecoando padrões compositivos advindos de uma criatividade intuitiva e da reinterpretação de elementos da cultura material. Estas expressões imersivas servem de ponto de partida para que Beatrice desenvolva o seu próprio universo, que, assim como as paredes das ruas, se forma através de camadas e de uma íntima relação com os elementos da visualidade popular. São pinturas sobre os pintores do cotidiano, que abordam tal prática como uma ocupação comum e que se estende a todos nós. Não por acaso, ela tem entre suas referências artistas que começaram pintando paredes, como Amadeo Luciano Lorenzato (1900-1995) e Chico da Silva (1910-1985).
A paisagem, na produção de Beatrice, é o meio pelo qual se opera um diálogo constante entre o mundo exterior e interior. Suas composições trazem um olhar demorado e cuidadoso diante da complexidade dos elementos do cotidiano, sejam eles objetos, painéis, fachadas ou a natureza. Ao mesmo tempo, a sua originalidade se produz a partir da forma como esses elementos são absorvidos internamente. A partir do pensamento de Michel Collot em Poética e filosofia da paisagem (2020), pode-se considerar que: “A experiência da paisagem é caracterizada pela sua capacidade de provocar êxtase, quando o sujeito sai de si — pensamento dos poetas líricos — e o mundo parece tocar seu interior. O pintor estaria entre pintar o que vê e pintar também o que sonha – paisagens do interior, mas sem se desvincular do mundo.” Assim, perceber o cruzamento entre as figurações de paisagens do mundo interior e exterior parece ser o caminho para se capturar a pesquisa que envolve o trabalho de Beatrice Arraes.