Refundação: Galeria Reocupa, Ocupação 9 de Julho, São Paulo | Curadoria: Alan Oju, Ana Avelar, André Komatsu, Andrea Lanzoni, Carla Cruz, Carmen Silva, Débora Bolzsoni, Diana Vaz, Ding Musa, Kellen Silva, Lourival Cuquinha, Lucas Bambozzi, Marcelo Zocchio,Marcius Gal
Refundação acontece na Galeria Reocupa, da Ocupação 9 de Julho,
reunindo cerca de 130 trabalhos, entre pinturas, esculturas, intervenções,
instalações, vídeos e objetos de mais de 100 artistas de todo o território nacional.
Provocando a reflexão sobre outros mundos possíveis, em vias de existir ou a serem
refundados, o grupo à frente da exposição Refundação propõe novas
perspectivas de relações, em uma revisão dos laços sociais e políticos que sustentam
nossa cultura, por meio de um coletivo de curadoria que reúne representantes de
diversos setores da cultura e da arte.
Dentre os artistas participantes da exposição, estão presentes tanto nomes mais
consagrados como outros mais desconhecidos do circuito da arte, junto com novas
gerações, além de moradores da Ocupação 9 de Julho e parceiros da Galeria.
Alguns artistas confirmados são Ernesto Neto, Leda Catunda, Helô Sanvoy, Juliana
Notari, Paulo Nazareth, Lia Chaia, Retratistas do Morro, Lucia Koch, Marcel Diogo,
Auá Mendes, Coletivo Coletores, Renata Felinto, Rodrigo Andrade, Virgínia Medeiros,
Denilson Baniwa, Kerexu Martim e Preta Ferreira.
Este novo projeto da Reocupa, cuja abordagem interdisciplinar reflete a
necessidade de criar outras formas de pensar, relacionar-se e praticar arte no
mundo, tem como objetivo afirmar a Ocupação 9 de Julho como um pólo cultural
aberto e permeável, que envolve espaços de circulação, inseridos em uma lógica de
Parque, com ações culturais e urbanísticas integradas.
A exposição será realizada em diversos espaços da Ocupação 9 de Julho – antigo
prédio do INSS, que ficou abandonado por três décadas, até ser ocupada pelo MSTC
(Movimento Sem Teto do Centro) em diferentes ocasiões a partir dos anos 1990.
Além da Galeria Reocupa, situada no 1o andar do prédio, as obras estarão em
espaços de circulação, em diálogo com moradores do edifício e com a dinâmica que
tornou a Ocupação 9 de Julho um lugar aberto à sociedade.
Para o MSTC, a exposição contribui para a consolidação de um projeto modelo, que
ambiciona seu reconhecimento, em caráter inédito, como um Quilombo Cultural
Urbano.
Vale destacar também que a maioria das obras estarão à venda, com o propósito de
reunir fundos para operações da exposição e da Galeria, para a manutenção do
prédio e dos projetos do MSTC e para o auxílio de todos os artistas participantes da
exposição.
Sobre o conceito curatorial
Refundação foi idealizada e organizada por uma equipe de artistas, curadores e
produtores que se voluntariaram desde o início do ano para discutir centenas de
possíveis artistas participantes, em um processo de formulação das bases da
exposição. Eles afirmam que “o momento que nos atravessa, tão marcado pela
desintegração do tecido social, exige que trabalhemos coletivamente. Assim, a ideia
é rever nossa história narrada atendendo a novas inconfidências, conjurações e
revisitações dos territórios de poder, vislumbrando uma possível refundação cultural.”
A exposição reverbera o pensamento urgente da revisão das marcas e rachaduras
políticas existentes em nossa narrativa histórica. “É momento de reconhecer os
territórios administrativos que centralizaram decisões em nome de poucas pessoas.
É preciso identificar relações de poder que tornaram o pensamento hegemônico
permeado de verdades parciais”, comentam os curadores e gestores da exposição.
Histórico
A parceria entre artistas e o MSTC já acontece há tempos, mas se estreitou
notadamente a partir de 2017, em ações que propiciaram a criação da Cozinha
Ocupação 9 de Julho e a Galeria Reocupa, em 2018. Naquela ocasião, essa
experiência contou com uma mostra do artista Nelson Felix, como extensão de seu
espaço expositivo na 33a Bienal de São Paulo. A exposição seguinte, O QUE NÃO É
FLORESTA É PRISÃO POLÍTICA, entrou em cartaz em setembro de 2019 e reuniu
mais de 150 artistas participantes. Mais de 40 convidados participaram de atividades
especiais, em ativações mensais, chegando a somar mais de 220 obras montadas.
Dentre os grupos e pessoas que investiram voluntariamente energia vital, tempo e
trabalho na viabilização da Galeria Reocupa, a ponto de torná-la reconhecidamente
um espaço de referência, vale destacar a continuidade dos trabalhos do
Aparelhamento, um grupo de artistas e ativistas que surgiu em 2016, em reação ao
golpe parlamentar que impactou o Brasil. Trata-se de um grupo que atua menos
como um coletivo de arte e mais como uma rede incentivadora de outras redes de
colaboração, visando fortalecer iniciativas sob a forma de atuação conjunta.
As urgências que caracterizaram a derrocada recente da democracia no país e o
recuo das conquistas sociais e culturais foram fatores de agregação do grupo em
propostas de continuidade de ações, presentes e futuras, como é o caso da
exposição Refundação.