Apresentação

A presença negra na arte brasileira é datada de séculos passados. Desde os pintores e arquitetos que construíram a iconografia religiosa do país, passando pelos pré-modernistas, modernistas e, finalmente, contemporâneos, os caminhos percorridos pela arte afro-brasileira são vastos em pontos de contato e distanciamentos. De fato, essa abundante produção esteve presente nos principais momentos – e movimentos – que formaram e cunharam a própria história do Brasil. Por vezes não referenciada, a arte produzida por pessoas negras é sinônimo de pluralidade.

Dos livros, catálogos, exposições e pesquisas que abordaram essa presença, despontam, nos últimos anos, ações que reivindicam um lugar em perspectiva com as mudanças do pensamento e práticas dissonantes. A arte produzida por pessoas negras delineia novas ideias, atreladas às constantes inquietações por um apurado senso estético e político. Nessas produções, destaca-se o rompimento de uma concepção de unicidade, pelo interesse em desconstruir fórmulas, reinventar espaços e assumir protagonismos.

Idealizada a partir do Projeto Afro, plataforma de mapeamento de artistas negros/as/es, a exposição Encruzilhadas da arte afro-brasileira apresenta 69 artistas de todas as regiões do país, entre os mais de trezentos mapeados. Buscando examinar e propor um outro referencial para uma história antes contada na ótica hegemônica branca, a exposição elenca nomes fundamentais para se (re)pensar os emaranhados de um sistema que é desigual. Arthur Timótheo da Costa, Rubem Valentim, Maria Auxiliadora, Mestre Didi e Lita Cerqueira ocupam o prédio desta instituição, cada qual em um dos cinco eixos temáticos: Tornar-se; Linguagens; Cosmovisão; Orum; e Cotidianos, respectivamente.

Em diálogo com artistas contemporâneos, essas relações se dão por diferentes tempos, temáticas, técnicas, formas e cores empregadas, aproximando artistas de períodos e regiões distintas, sem esgotar a abrangência, a complexidade e as distintas pesquisas empregadas pela produção artística e intelectual de pessoas negras. As vias possíveis de confluências acontecem, desse modo, na coletividade, mas sem perder a subjetividade dos trabalhos aqui apresentados.

Se, por um lado, esses cruzamentos abrem os caminhos, por outro, a arte afro-brasileira é a encruzilhada que manifesta os rumos das narrativas que ressignificam territórios e histórias.

 

Deri Andrade
Curador

Obras